Na sexta-feira...

...fui chamada lá ao jardim-de-infância onde vou trabalhar. Ia descontraída, não fazia a mínima ideia para que era. Aliás, pensava que era para me dizerem quando começaria, mas não...foi para reunir com a psicóloga. Quando me dizem: “por favor aguarde um bocadinho, a psicóloga já vem", entrei em paranóia: Psicóloga? Mas psicóloga para quê? Ai, queres ver que me vão fazer um teste psicológico (ou lá como se chama isso)? E se eles descobrirem que afinal eu sou maluca? Ai queres ver que ainda vou perder o trabalho? Medo, medo, muito medo.

Mas a conversa com a sô Doutora até correu bem, no fim ela disse que gostou muito…ufa…desta já me safei. No início tremia por todos lados, gesticulava como um politico em campanha eleitoral e falava, falava, falava. Sim, porque aquilo de conversa não teve nada, foi mais um monólogo. Ela fazia a pergunta, encostava-se para trás, cruzava os braços e ficava ali a olhar para mim a falar. Tarefa que não foi difícil até porque sofro de incontinência verbal. Mais um bocadinho, ela ficava a saber a minha vida toda.

Perguntou-me de tudo: vida pessoal, académica e profissional. Fez algumas perguntas que não percebi muito bem qual a intenção, tipo: "qual a relação que tens com as tuas irmãs?" Desde quando é que a minha relação com as minhas irmãs, interfere na minha capacidade profissional? Não faço ideia, mas pelos vistos é importante, ou então a sô Doutora é cusca.

Depois de todo o stress, dei comigo a pensar, como tinha sido preconceituosa. Desde quando é que as pessoas que vão ao psicólogo são malucas, Bloom Maria? Mas se eu, que tive psicologia até dizer chega durante o curso, tive aquela reacção, naturalmente as outras pessoas também a tiveram. Como o meu pai, a minha mãe e a minha irmã, que quando lhes contei, disseram todos coisas do género: “ah, foi para ver se és maluca?” – “E quê descobriram que tu és maluca?”

Só para esclarecer: ela não descobriu que sou maluca. Tenho as minhas pancas e manias, mas tirando isso, até sou normalzinha.

ilustração: garance dore